Fome no Brasil é maior em famílias chefiadas por mulheres pretas ou pardas
De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, a fome no país já atinge mais de 33 milhões de pessoas. Isso significa que 40% das famílias não conseguem acesso pleno à alimentação. O cenário é ainda pior se estamos falando de lares de pessoas pretas: a segurança alimentar só existe para 35% dos lares de pessoas da cor preta ou parda.
No Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado nesta segunda-feira (25), os dados mostram que houve um aumento de 8% da fome em famílias pretas e pardas se compararmos o resultado com o 1º Inquérito Nacional da Rede PENSSAN, de 2020. Essa também foi a porcentagem de aumento nas casas que são chefiadas por mulheres, onde os números da fome passaram de 11,2% para 19,3%.
A coordenadora geral da ONG Criola, que defende os direitos das mulheres negras, Lúcia Xavier, atribui o aumento da fome mais acentuado nas casas das famílias negras à desigualdade racial do Brasil. “Diante da crise, as vulnerabilidades desse grupo se ampliam. Se tivessem melhores condições de trabalho, acesso a serviços públicos, mesmo frente a uma crise sanitária e política elas teriam mais equilíbrio”, disse em entrevista a Universa. “Com a inflação alta, sem trabalho ou com empregos precários, e sem suporte público, elas não conseguem mais”, finaliza.
Para Lúcia, a cada piora da situação econômica na sociedade o cenário fica mais complicado para essas mulheres negras. “Elas estão pedindo ajuda para cesta básica, gás e estão com dificuldade para complementar a comida da casa, além do arroz e feijão, quando conseguem uma cesta”, diz Lúcia. Só os alimentos destinados à cesta básica não são mais o suficiente para suprir a família por um mês. “E isso gera um estresse para cuidar da família”, diz a coordenadora.
Medo de não comer
Quando a pandemia afastou as crianças da escola, muitas delas perderam a segurança da única alimentação que teriam no dia. A merenda. De acordo com a pesquisa, de 2020 para 2022, dobrou a quantidade de famílias com crianças que são menores de 10 anos com fome – indo de 9,4% para 18,1%.
Para Lúcia, essas mulheres, apesar de se sentirem ansiosas, angustiadas e até deprimidas com essa situação, elas vão à luta todos os dias, para que o estoque não chegue a zero. “Na medida que as coisas vão rareando, elas vão se movimentando, pedindo e buscando soluções para o problema. Se tem criança envolvida, não dá para esperar”, finaliza.
Fonte: Universa/UOL