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Mães que empreendem são as mais prejudicadas pela pandemia, avalia ONU Mulheres

Um levantamento da ONU Mulheres apontou que a participação de mulheres com filhos e filhas de até dez anos caiu de 58,3%, no segundo trimestre de 2019, para 50,6% no segundo trimestre de 2020. Dentre outras consequências, a pandemia de COVID-19 tirou sete milhões de trabalhadoras do mercado de trabalho.

A sobrecarga que o acúmulo de atividades trouxe foi a principal queixa das empreendedoras, superando as dificuldades econômicas pessoais e do país. Pelo menos 63% delas relataram o aumento da carga de trabalho como desafio mais significativo, a principal barreira à sua dedicação ao negócio.

O levantamento foi lançado junto a uma cartilha, sendo que ambos foram elaborados, pelo Programa “Ganha-Ganha: Igualdade de Gênero Significa Bons Negócios”. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a ONU Mulheres, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e conta com financiamento da União Europeia.

Os principais pontos da pesquisa apontaram para empreendedoras mães à deriva, com o desafio de empreender com filhos e filhas sem escolas e creches – Foto: Roberto Parizotti

Com objetivo de auxiliar mulheres mães, empreendedoras formais e informais, e diferentes setores econômicos no Brasil no processo de recuperação de negócios impactados pela pandemia COVID-19, a ONU Mulheres desenvolveu um levantamento e uma cartilha sobre o tema. O material pode ser útil para a atuação de empresas que desejam apoiar o empreendedorismo de mulheres e apoiar suas colaboradoras na construção de ambientes de trabalho mais equitativos, em especial as mães.

Para elaboração da cartilha foi realizada uma pesquisa compartilhada em grupos e listas de empreendedorismo materno. O levantamento se debruçou sobre o impacto da pandemia nos negócios e a rotina de mães empreendedoras com filhos e filhas de até 12 anos. O material foi complementado com dados secundários, como outros estudos e pesquisas.

Resultados – Dentre outras consequências, a pandemia tirou sete milhões de mulheres do mercado de trabalho, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). O levantamento da ONU Mulheres apontou que, no mercado, a participação de mulheres com filhos e filhas de até dez anos caiu de 58,3%, no segundo trimestre de 2019, para 50,6% no segundo trimestre de 2020.

Segundo relatório especial da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), houve um retrocesso de mais de uma década em avanços na participação feminina no mercado de trabalho na América Latina e no Caribe. Com o fechamento de escolas e creches, as mães ficaram sem redes de apoio de cuidado com os filhos e filhas e, com isso, perderam condições de se dedicar às suas atividades econômicas. Este quadro impactou renda, independência financeira, aumentando a demanda de trabalho de cuidado e criando uma espiral de sobrecarga mental, física e emocional.

Com o aumento da vacinação e uma perspectiva de retomada econômica é urgente que as empresas, governos e sociedade priorizem a proteção e inclusão de mães nas atividades produtivas, levando em consideração todo o desgaste emocional que esse período trouxe. A ONU Mulheres também frisou que o esgotamento emocional das mães traz consequências para toda a sociedade, gerando sofrimento não apenas para elas como para todo o núcleo familiar e impactando a saúde emocional e o desenvolvimento de toda uma geração de crianças.

Mudanças na rotina familiar – Os principais pontos da pesquisa apontaram para empreendedoras mães à deriva, com o desafio de empreender com filhos e filhas sem escolas e creches.

A sobrecarga que o acúmulo de atividades trouxe foi a principal queixa das empreendedoras, superando as dificuldades econômicas pessoais e do país. Pelo menos 63% das empreendedoras relataram o aumento da carga de trabalho como desafio mais significativo, a principal barreira à sua dedicação ao negócio.

Além disso, “aumentou” ou “aumentou muito” para as mães o tempo dedicado às seguintes atividades depois da pandemia: 92% de cuidado com os filhos e filhas, 85% de rotina de cuidado da casa, 74% atividades escolares, 59% atividades do negócio e “diminuiu” ou “diminuiu muito” para 64% das mães o tempo dedicado ao lazer e ao autocuidado.

Ao serem questionadas sobre como acreditam que ser mãe e/ou cuidadora principal de uma criança de até 12 anos incide no desempenho do seu trabalho, o contexto da pandemia fez dobrar a proporção de mulheres que se veem prejudicadas no trabalho, tendo que exercer as tarefas de cuidado.

A vida familiar passou a antagonizar significativamente mais o sucesso profissional, e nesse contexto, é muito preocupante que o cuidado com os filhos e filhas seja visto como causador de prejuízos ao desempenho no negócio. “A qualidade do cuidado familiar, essencial para o crescimento e desenvolvimento das crianças, depende de boas condições psicossociais, sanitárias e econômicas”, frisou a agência da ONU para as mulheres.

Para a representante de ONU Mulheres, Anastasia Divinskaya, “os resultados da pesquisa não são surpreendentes, mas são extremamente relevantes para refletir sobre as ações que podem ser conduzidas para reduzir as lacunas, aprofundadas e agravadas pela pandemia de COVID-19, da desigualdade de gênero, em especial para mulheres mães. A ONU Mulheres está comprometida com o reposicionamento que o papel do cuidado tem na sociedade para que não sejam sempre os mesmos grupos a pagarem o preço mais alto nas crises sociais, econômicas e políticas”.

Recursos para recuperação – Apenas 29% das mães empreendedoras que responderam à pesquisa concordam totalmente que estão preparadas para continuar empreendendo e só 12% acreditam totalmente que a vida pessoal e profissional está em equilíbrio.

Entre as principais reivindicações do grupo, a ONU Mulheres destaca:

  • Ter seu trabalho valorizado e assim ter orgulho de ser empreendedora;
  • Adquirir conhecimento e melhorar sua relação com o dinheiro;
  • Conhecer e ter acesso a crédito;
  • Buscar formalização de seus negócios;
  • Acesso a formação e capacitação;
  • Apoio para digitalização.

Apesar dos desafios, há crescimento no número de programas que financiam empresas comandadas por mulheres, assim como se multiplicam programas de formação, digitalização e aceleração de negócios femininos.

Para que mulheres mães possam acessar e buscar formação, é importante que as redes de apoio se multipliquem, reduzindo significativamente a sobrecarga de trabalho que prejudica o tempo que pode ser dedicado ao seu autocuidado e ao trabalho remunerado. Outro ponto fundamental é a valorização do trabalho e dos negócios de mulheres mães. A atividade empreendedora é importante para o crescimento econômico e para redução da pobreza.

Empreendedoras mães precisam ser preparadas para vender e comercializar seus produtos nos ambientes virtuais, mas, antes disso, precisam adquirir conhecimentos fundamentais que são base para o crescimento de qualquer negócio.

Como as empresas podem apoiar – Ações de apoio aos negócios de mães empreendedoras podem vir em três principais frentes:

  • Investimento em formação, capacitação e treinamento diretamente ou através do apoio de iniciativas;
  • Compras afirmativas são uma ferramenta poderosa para o empoderamento das mulheres e fortalecimento da economia. Participar de rodadas de negócios é uma excelente estratégia.
  • Estimular marcas a apoiar negócios de mães empreendedoras, promovendo seus produtos e serviços, fazendo uso da abrangência e alcance de suas marcas.

Nesse contexto, é igualmente importante apoiar a retenção de talentos de colaboradoras mães nas empresas.

Entender o impacto da maternidade na carreira das mulheres e estar preparada para implementar processos que considerem a chegada dos filhos e filhas como um dos momentos de vida mais importantes de seus colaboradores e colaboradoras é uma resposta assertiva para melhorar a paridade de gênero nas empresas e aumentar a participação das mulheres em cargos de liderança.

A ONU Mulheres convida as empresas a conhecerem e se comprometerem com os 7 Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs) e assumirem este compromisso com a comunidade e suas equipes por um mundo igualitário. Para assinar os WEPs e se comprometer com a igualdade de gênero, acesse aqui.

Sobre o Programa Ganha-Ganha – A ONU Mulheres, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a União Europeia (UE) acreditam que a desigualdade de gênero no mercado de trabalho é um problema que precisa ser encarado sem subterfúgios. Com base nessa convicção, foi criada uma parceria estratégica para implementar o ¨Ganha-Ganha: Igualdade de Gênero significa Bons Negócios¨, um programa regional desenvolvido em seis países da América Latina e Caribe (Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Jamaica e Uruguai), que teve início em janeiro de 2018 e finalizou em junho de 2021.

O objetivo do Programa foi o de promover o empoderamento econômico das mulheres, reconhecendo seu papel como beneficiárias e parceiras do crescimento e desenvolvimento, bem como o compromisso e a competência crescentes de instituições privadas e públicas para promover mudanças com foco na igualdade de gênero e no empoderamento das mulheres. O programa foi implementado e avaliado por meio de várias atividades, organizadas em três eixos:

  • Trabalho em rede e cooperação entre empresas lideradas por mulheres.
  • Fortalecimento de capacidades, compartilhamento de conhecimento e boas práticas e advocacy entre empresas e organizações de empregadores.
  • Mecanismos e financiamento para apoiar a inovação e empreendimentos inovadores liderados por mulheres.

O Programa Ganha-Ganha está alinhado aos grandes compromissos internacionais pela igualdade de gênero – como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a Declaração de Pequim, e também as diretrizes firmadas em diferentes sessões da Comissão sobre a Situação das Mulheres (CSW).

Tendo como principal ferramenta os WEPs, a iniciativa realizou diferentes ações junto ao setor privado e também instituições de negócios para promover um ambiente de trabalho igual para homens e mulheres; igualdade de acesso a recursos, emprego, mercados e comércio; acesso das mulheres a serviços de negócios, treinamentos, mercados, informações e tecnologia; melhoria da capacidade econômica e das redes comerciais; eliminação da segregação ocupacional e todas as formas de discriminação no ambiente de trabalho; promoção de relação harmônica entre as responsabilidades trabalhistas e familiares de mulheres e homens – destacando sempre que o desenvolvimento sustentável é uma responsabilidade de toda a sociedade e que as empresas têm um papel importante nesse processo.

Fonte: ONU Brasil

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