Somente com equidade e inovação na saúde poderemos um dia vencer o HIV/Aids
No dia 1º de dezembro, é celebrado desde 1988 o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Nessa data, o mundo recorda e homenageia todas as pessoas que perderam suas vidas em decorrência da doença ao longo dos 41 anos de epidemia. E também reúne forças para continuar lutando para garantir saúde para todas as pessoas do planeta, tanto as que vivem quanto as que não vivem com HIV.
No Brasil, na onda dos meses coloridos, desde 2017 resolvemos amplificar a mobilização do dia 1º por todo o Dezembro Vermelho, com campanhas de conscientização sobre a importância da prevenção e assistência do HIV e de outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), bem como da proteção dos direitos das pessoas com essas infecções.
Dezembro é também um momento de balanço e reflexão sobre as ações que estão dando certo no enfrentamento da epidemia e planejamento dos caminhos por onde devemos prosseguir.
Incomoda saber que apesar de haver na atualidade um tratamento eficaz para a infecção por HIV, no ano de 2021 ainda foram registradas em todo mundo 650 mil mortes pela doença, sendo 11.238 somente no Brasil.
Além disso, ainda que tenhamos hoje múltiplos, diferentes e potentes métodos de prevenção do HIV, 1,5 milhão de pessoas se infectaram globalmente no ano passado, um número 3 vezes mais alto do que a meta estabelecida pelo Unaids (Programa Conjunto da Nações Unidas para o HIV/Aids).
Olhando agora para as regiões do planeta em que os números da epidemia de HIV estão melhorando, como Europa e Austrália, fica evidente que a causa disso foi o empenho para reduzir desigualdades e derrubar as barreiras de acesso aos serviços de prevenção, testagem e tratamento do HIV/Aids.
No Brasil também existem iniciativas inovadoras que têm como objetivo promover mudanças desse tipo. Um exemplo disso é a Clínica Comunitária de Saúde Sexual que foi inaugurada ontem na cidade de São Paulo.
Idealizada e financiada pela ONG AHF Brasil (Aids Healthcare Foundation), o centro se situa na praça da República, na região central da capital, para facilitar o acesso às pessoas mais vulneráveis ao HIV/Aids e outras IST, como imigrantes, pessoas trans, homens gays e bissexuais, trabalhadores do sexo, população em situação de rua e pessoas que usam drogas.
Desde a sua concepção, a clínica conta com a participação da comunidade que será lá atendida na construção dos fluxos de atendimento e comunicação. Com isso, tentou-se derrubar as barreiras de acesso à informação e saúde. Segundo Fernanda Rick, diretora médica da clínica, algumas dessas populações tiveram suas opiniões ouvidas pela primeira vez em suas vidas.
“Aqui, todas as pessoas são bem-vindas. Nosso foco é proteger e cuidar para além da ótica da saúde. Por isso, queremos trazer a comunidade para dentro da clínica, promovendo oficinas, atividades de integração, educação e comunicação”, disse Fernanda.
A unidade terá atendimento multidisciplinar acolhedor inteiramente gratuito, com testagem e orientação para HIV/Aids, hepatites B e C, bem como diagnóstico e tratamento de sífilis e outras ISTs, com horário diferenciado até mais tarde em dias úteis.
A clínica de São Paulo é a segunda do tipo no Brasil. A primeira foi aberta em Recife, em 2018, com foco na saúde do homem, e já se tornou uma referência na região. Com atendimento isento de julgamento, as duas clínicas pretendem começar a preencher o grande déficit existente no país no âmbito de atendimento de qualidade em saúde sexual.
Assim como essas, ao redor do mundo são inúmeras as iniciativas bem-sucedidas que inovaram na abordagem da saúde sexual da população mais vulnerabilizada e abandonaram o simplificado e ineficaz mantra “use camisinha”. No lugar disso, preferiram acolher populações historicamente marginalizadas para que, dentro de suas especificidades, possam com equidade enfim alcançar melhores condições de saúde e qualidade de vida.
Nesse Dezembro Vermelho vamos prestar atenção e celebrar os exemplos inovadores de atendimento com o objetivo de multiplicá-los pelo Brasil.
Vida longa e sucesso para a Clínica Comunitária de Saúde Sexual de São Paulo.
SERVIÇO – Clínica Comunitária de Saúde Sexual Endereço: Rua Pedro Américo, 52 – República/SP Atendimento: de segunda a sexta (exceto feriados), das 13h30 às 19h30
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
Fonte: Coluna Rico Vasconcelos do VivaBem/UOL