Por que é importante defender a Petrobras? Entenda o que está em jogo
Na quarta-feira, dia 3, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo sediou a instalação de uma Frente Parlamentar em Defesa da Petrobras, presidida pela deputada Leci Brandão (PCdoB/SP) em São Paulo e pelo deputado Davidson Magalhães (PCdoB-BA) nacionalmente. A intenção do grupo é a de esclarecer as denúncias em torno da estatal “com responsabilidade”, sem permitir que as investigações da Operação Lava-Jato se tornem cavalo de troia para tentativas de privatização. A intensidade dessa preocupação se traduziu no número de parlamentares presentes no evento: nada menos que 35 deputados, de 13 partidos (incluindo oposição), co-assinaram o documento de criação do grupo estadual, juntamente o ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo, Haroldo Lima, e os prefeitos Carlinhos Almeida (São José dos Campos), Jonas Donizete (Campinas) e Marcia Rosa (Cubatão).
Mas quais seriam os interesses em privatizar a estatal neste momento de crise interna? Se a situação da empresa está mesmo amarga, como papagaiado pela imprensa, por que os grupos de investimento teriam interesse em tomar o controle dela?
Recorde atrás de recorde
“Não podemos perder de vista que há interesses poderosos rodeando o crescimento da Petrobras. Há interesses de grupos e pessoas contrariados, ávidos para se apossar da empresa, de seu mercado e das imensas jazidas de petróleo e gás do Brasil”, disse a deputada Leci Brandão. Ela não fala de valores pequenos: o valor atual de mercado da Petrobras é de US$ 110 bilhões, e a empresa movimenta quase 13% do PIB brasileiro todo ano. Entre a extração de petróleo e o refino de combustível e gás, a gigante emprega mais de 80 mil trabalhadores diretos e 1 milhão de indiretos em todo o país.
Não só a Petrobras tornou-se a maior empresa brasileira na última década, ela também vem crescendo a ritmos vertiginosos. Só nesta semana, a empresa emitiu US$ 2,5 bilhões em títulos para fechar suas contas até o final do ano, mesmo em meio à crise financeira que atormenta o mercado internacional. Segundo o banco BTG Pactual, a demanda pelos papéis foi “bem forte, com conotação positiva”, indicando uma retomada de confiança por parte dos investidores.
O otimismo não é infundado. Nos últimos 10 dias, a empresa revelou em nota à imprensa a descoberta de dois novos reservatórios de petróleo no pré-sal, um no Sergipe, outro em Santos. Para completar, descobriu que esses acúmulos são compostos de petróleo leve (mais valorizado). Dias depois, a Petrobras soltou uma bomba: conseguiu baixar ainda mais os custos de produção do pré-sal, reduzindo o gasto inicial de US$ 40 por barril para US$ 9 por barril – na prática, isso multiplica a margem de lucro da empresa.
Todos os fatos considerados, a tendência de produtividade da Petrobras vem desenhando um gráfico de ascensão exponencial: no dia 11 de abril, a estatal bateu a produção recorde de 802 mil barris diários, com média mensal de 715 mil barris. A frequência com a qual a empresa vem anunciando recordes na extração e no refino recebe pouca atenção da imprensa, mas não passa em branco aos olhos do mercado financeiro, e já se projeta para 2020 que ela atinja o terceiro ou quarto lugar como maior empresa de petróleo do mundo.
Dividir e conquistar
Mesmo com todos os dados positivos demonstrados no relatório técnico da empresa, a imprensa insiste em criar um retrato pessimista. Enquanto o país acompanha uma operação policial contra evasão de divisas na gestão da estatal, os detentores dos grupos de comunicação aproveitam a oportunidade para desmoralizar sua atuação, determinados a encontrar os motivos para privatizá-la ou, no mínimo, destituir o regime de partilha, que deixa a maior parte dos lucros nas mãos do povo brasileiro.
“A mídia estimula essa situação de desconfiança, potencializa a crise e tenta transformar os trabalhadores da Petrobras em pessoas desonestas”, disse o secretário de administração e finanças da Federação Única dos Petroleiros, Aldemir de Carvalho Caetano. Ele lembrou que o crescimento brasileiro no setor do petróleo fez o país passar a integrar o clube dos grandes produtores mundiais, e que a desmoralização à qual vem sendo submetida a Petrobras não é acidental. “O pré-sal já é uma realidade, e tem mais de cem anos de reservas ali. Essa riqueza evidentemente traz a ganância de outros países, que querem adquirí-la, e é justamente por isso que a empresa é atacada violentamente. Há todo tipo de iniciativa para torná-la uma empresa que dá os lucros apenas para os acionistas, como uma outra qualquer de mercado”, disse.
Esse é o caso, por exemplo, da proposta feita pelos presidentes do Congresso, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, na segunda-feira, dia 1. A dupla solicitou à presidenta Dilma Rousseff que a aprovação de futuros nomes da diretoria da Petrobras passassem pelo crivo do Legislativo antes de serem aprovados – na prática, isso cederia o controle da estatal para as duas Casas, onde o capital financeiro tem muito mais domínio. A iniciativa foi descartada pela presidenta.
Fonte: CTB