Artigos de menuUltimas notícias

Brasil quer importar a ‘demissão silenciosa’: Quem essa prática beneficia?

“Quiet quitting”: Esse termo se popularizou entre a Geração Z no TikTok, basicamente trazendo questões relacionadas ao mercado de trabalho, mas “importado” da cultura que não é a mesma que a do nosso país. E, com o perdão do trocadilho, isso importa muito!

Independente de qual conceito ou explicação você já teve contato por aí sobre este termo e o que ele significa, é importante a gente o trazer para nosso contexto brasileiro de mercado de trabalho, que é diferente de onde o significado dele faz algum sentido.

Por aqui, muita gente tem reforçado o fato de que esse termo, que quando traduzimos para o português tem sido chamado de “demissão silenciosa”, se refere a um “checklist” a ser realizado por uma pessoa funcionária de uma empresa que, insatisfeita com seu trabalho, passa a agir de forma que force uma demissão por parte da empresa.

Ou seja, a pessoa não quer continuar trabalhando naquela organização, mas não quer pedir demissão. Porém, não é bem por aí, e as tais atitudes já demonstram que esse papo está muito mal contado e beneficiando quem não deveria.

Dentre as atitudes de quem tem sido classificado como um “quiet quitter” estão ações como não fazer hora extra, não assumir atividades que não são do seu escopo de trabalho, não transpassar uma conexão emocional exacerbada com sua função, não ser membro do “fã clube” da empresa. Ou seja, um “quiet quitter” é um funcionário que “só” faz o que foi contratado para fazer.

Sinal de alerta! Precisaram criar um termo que classifique profissionais que não colocam o trabalho acima da vida pessoal, que não romantizam o trabalho excessivo e, na maioria das vezes, tóxico, e que fazem aquilo que está de acordo com o salário que estão recebendo para executar. E os chamam de “desistentes silenciosos”.

A serviço do quê e de quem?

Com certeza a serviço das empresas e de reforçar que tais pessoas não são comprometidas com o trabalho, justificar não promoções, não aumentos salariais e reforçar padrões trabalhistas abusivos para se aproveitar ao máximo das pessoas, até seu total esgotamento, mas com uma avaliação de desempenho “invejável”.

Já está se defendendo por aí que esses “desistentes” não devem esperar bons resultados de avaliação de desempenho, promoções e aumentos porque isso só se “dá” para quem “se destaca” e “veste a camisa”.

E não é possível que não estejamos achando isso um absurdo, uma vez que uma pessoa que faz seu horário determinado, e se mantém dentro de suas atividades, pode sim ser um talento incrível naquilo que é sua função, enquanto ela está ali disponível a realizando no horário combinado.

O que foi que aconteceu que normalizamos a toxicidade e passamos a julgar e diminuir quem não quer fazer parte dela? Quem não querer ser abusado pela empresa não significa que se busca forçar uma demissão.

Enquanto continuam distorcendo as atitudes das pessoas para justificar o injustificável, a gente vai precisar continuar “importando” conceitos, na necessidade de nos proteger da cultura desumana que as empresas vêm, universalmente, implementando.

Será que precisamos lembrar as organizações que para forçar demissão, no contexto Brasil, a gente já tem um “checklist” bem diferente, chamado “atestado”, há anos?

E anota aí: inevitavelmente é nele, o atestado, que a gente vai chegar. Tanto intencionalmente, pelos “verdadeiros desistentes”, quanto não intencionalmente, por quem ainda está preso num regime de trabalho tóxico que, cedo ou tarde, só faz adoecer.

Fonte: Coluna Noah Scheffel Ecoa/UOL

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.